Enquanto em isolamento parei de me vestir afim de cumprir um papel social, coisa que já não fazia com muito esforço, confesso.
Me libertei das correntes de sutiãs e das calcinhas, pois já não usava mais calças duras que pudessem me incomodar e assim me livrei das roupas íntimas.
Quase não uso mais o desodorante, cheio de alumínio que não nos faz nada bem e algumas vezes uso leite de magnésia em seu lugar.
Nos tornamos responsáveis verdadeiramente por nossos lares, refeições e quem está isolado com outras pessoas, por seus relacionamentos. Relacionamentos que fundiram-se de vez ou que foram destruídos.
Pessoas que melhoraram seus hábitos higiênicos e passaram a limpar sua própria privada. Outras continuaram a ignorar o isolamento e manter pessoas trabalhando em seus lares para limpar seus dejetos, colocando em risco a saúde de todos.
Vivo em um país que está em crise sanitária como tantos outros sim, porém com outras milhões de crises pra solucionar, entre elas a crise política, que considero a pior delas, afinal de contas, é por ela que a maioria das pessoas por aqui estão morrendo com a crise sanitária.
Não foi respeitado o isolamento social e quanto mais o tempo passa, mais abrem a porteira e deixam que todos caminhem até a morte. E como já estamos acostumados a ver os corpos das pessoas mais pobres e principalmente de pessoas negras serem violentados pelo Estado, parte da população se abalou e parte continua alienada ou conivente. Há também aqueles que demonstram-se empáticos a desgraça do próximo e gritam aos 4 cantos do Brasil, que devemos abrir o comércio e deixar que uns morram para que a economia possa girar. Eu só vejo mesmo rodar a roleta da morte e incontáveis são as lágrimas daqueles que sofreram sozinhos em seu leito de morte ou daqueles que ficaram e não puderam despedir-se dos seus. Assim o governo quer constranger, inibir e instaurar o medo, afim de que não haja quem lute contra suas palavras de ordem. O governo desde que instaurado, manda mensagens confusas ao povo e ninguém mais sabe em que acreditar, assim eles nos tiram a cada dia mais direitos e seguem com o plano. Plano, provavelmente comungado por algumas nações, para o extermínio das populações antes que não haja mais recursos naturais à todes.
Em meio a esse caos, estou em casa, segura e privilegiada, enquanto tenho reflexões banais é comuns aos que compartilham da mesma posição que eu, sobre minha vestimenta, há aqueles que não podem se vestir ou que lhes falta água encanada para se higienizar e proteger-se minimamente contra o vírus. Já não lhes havia condições sanitárias antes e a desgraça já lhes era o dia à dia, mas isso se agrava muito em meio a pandemia. Enquanto reclamo que meu cachorro faz besteiras ou que meus pais me irritam às vezes, há quem more em um único cômodo com a família toda e o contágio é inevitável. Assim vive a grande maioria. Há grande desproporção no número de mortes entre o sistema privado de saúde e o público. Há cicatrizes que essa pandemia deixará que nunca cicatrizará. Mas como boa humana que sou, busco culpados, e entre eles estão, o Vírus Presidenciável, o Vírus Covid-19 e os meios de comunicação que regem a orquestra toda. Agora ouço a música de Tom Jobim de forma macabra, e em seu refrão que diz: “Façamos vamos amar”, é possível ouvir:
Façamos vamos matar.